ENSAIOS – Michel de Montaigne

Artigo

ENSAIOS
Michel de Montaigne

Ricardo Razuk1

Michel de Montaigne nasceu em 1533 na França. Viveu em uma época de grandes  acontecimentos, como a recém-descoberta do “novo mundo” e a Reforma Protestante. A referida descoberta abalou as bases de conhecimento na Europa, uma vez que muito do que se encontrou nas terras depois chamadas americanas não encontrava nenhuma correspondência ou referência nos tratados da época. Seja no reino vegetal, seja no reino animal. E, em especial, podemos dizer que o modo de vida encontrado nos nativos estremeceu as supostas verdades da época.
A Reforma Protestante foi um movimento religioso ao qual Montaigne era contrário. Católico, como o Rei de França, enxergava-a como uma causadora de desordem desnecessária à vida religiosa e, consequentemente, ao convívio dos cidadãos.
Após alguns anos atuando nos negócios públicos de sua cidade, Montaigne decide retirar-se para uma vida de reflexões em seu castelo, onde escreveria seus Ensaios. E por que esse nome? Como ele mesmo diz em um deles, “Si mon ame pouvoit prendre pied, jene m’essaierois pas, je me resoudrois: elle est tousjours en apprentissage et en espreuve”, que, de acordo com a tradução de Sérgio Milliet, seria “Se minha alma pudesse fixar-se, eu não seria hesitante; falaria claramente como um homem seguro de si. Mas ela não para e se agita sempre à procura do caminho certo.
Montaigne é o primeiro grande escritor nesse estilo e, sem dúvida, revolucionou a forma de filosofar. Deixava de lado os sistemas, os tratados, para escrever livremente sobre o tema que lhe vinha à mente e, sempre, colocando no papel tudo que sua alma oferecia naquele instante que redigia.

O ensaísta é visto por muitos pesquisadores como um dos grandes nomes do Ceticismo Filosófico, em especial o Moderno. Não era um dogmático e buscava sempre ouvir, observar, conhecer o livro do mundo.
Devido às suas qualidades pessoais, foi um autêntico mediador de conflitos. Atuou para apaziguar os ânimos nas Guerras de Religião e, muito mais do que isso, diante de um conflito que não permitia uma convivência possível em um Estado que fora alicerçado nas bases da fé, inovou ao apostar no caráter dos Costumes a solução adequada para um acordo entre as partes.
Como diz André Scoralick no final de sua Apresentação dos Ensaios, em edição revisada por Sérgio Milliet, “Montaigne, enfim, humaniza a ordem política. Ao fazê-lo, deixa o precioso legado da conciliação e do entendimento, da convivência pacífica com a diferença, do pluralismo e da tolerância – para seus contemporâneos e para todos os tempos em que a tentação do absoluto vier a ameaçar o acordo entre os homens”.

Tenham todos uma ótima leitura e belas reflexões filosóficas! Paz.

Notas: Doutorando em Filosofia pela UFRJ, Mestre em Administração pelo COPPEAD UFRJ; Especialista em Economia e Gestão da Energia pelo COPPEAD UFRJ; Engenheiro de Produção pela UFRJ. É Coordenador-Geral na Escola de Contas e Gestão do TCE-RJ, Membro da Comissão de Mediação da OABRJ, Professor no FGV Management. Foi Professor e Coordenador Acadêmico na Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresa da FGV EBAPE. Trabalhou por 10 anos como concursado na Petrobras. Foi Coordenador de Contas a Receber na IBM e Consultor na Accenture. Foi Professor/Lecturer  no Master in Finance do FGV Management, no COPPEAD UFRJ, no Instituto de Economia da UFRJ, na  XP Educacional, no BTG Pactual e no IBMEC. Autor de artigos e coautor de Livros.