Resumo
.
Abstract
.
Artigo
De volta outra vez: “O Gládio”
Julio Silva
Apenas sete anos separam o Centenário do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga (CAEV) do Centenário de seu jornal, “O Gládio”. Agora, com seu retorno em novo formato, coube a mim, por bondade de meus colegas e amigos da Gestão “Vozes pelo Direito”, falar sobre nosso periódico – para deleite dos leitores e alegria daqueles saudosos que vibram com retorno desta folha estudantil tão conceituada entre os estudantes de Direito no Brasil.
Embora nosso “O Gládio” não tenha sido o primeiro a adotar esse nome - com precedentes em Belém, em 1890, e em Oliveira (MG), em 1889 - ele mantém uma tradição duradoura na Faculdade de Direito de Niterói, resistindo ao tempo mesmo com intervalos entre suas edições.
Lançado em agosto de 1931, o primeiro número de “O Gládio” marcou a entrada do jornalismo acadêmico na Faculdade de Direito de Nictheroy. Era comum, para a década de 1930, a publicação de textos através da imprensa estudantil. A história de cada jornal publicado por estudantes tem muito a ensinar sobre a produção e circulação de impressos, a tipografia e a indústria gráfica em geral e a respeito da apropriação que os estudantes faziam no relacionamento que estabeleciam com a instituição de ensino, especialmente com os professores e com os livros aos quais tinham acesso.
A imprensa estudantil da época possuía quatro objetivos: oferecer formação política; forjar a consciência moral e cívica; difundir novos valores sociais; e oferecer ilustração literária. O Gládio seguiu esses preceitos. Além de divulgar assuntos de relevância para a comunidade acadêmica, veiculava artigos de formação cívica e de exaltação de valores morais, textos de exaltação a intelectuais e heróis – fossem eles fluminenses, nacionais ou internacionais – e divulgava a criação literária dos jovens poetas da Faculdade de Direito.
A fundação desta folha estudantil foi a realização dos sonhos e a satisfação do idealismo efervescente de Toledo Piza, Sylvio Vieira da Silva, Hermes Athayde e Luiz Pereira dos Santos. Depois destes, se sucederam outros acadêmicos, indiferentes aos obstáculos de dar continuidade à obra, uma vez que estavam munidos do entusiasmo de se dedicarem a ocupações significantes. Todos aqueles que escrevem e escreverão para O Gládio usufruem dos juros intelectuais de seu passado, construindo no presente os seus mais elevados e grandiosos desígnios para o futuro.
O Gládio é resultado do trabalho do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga, refletindo a produção jornalística dos acadêmicos da nossa Faculdade e um modo de ensinar que não se limitava ao ambiente de sala de aula. É o registro claro de que nossos ex-colegas existiam para além da vida acadêmica; que a atividade universitária era – e deve continuar sendo – transversal, produzindo poemas, crônicas e contos além do cotidiano escolar ou atividades correlatas.
Semelhante a outros jornais estudantis, O Gládio passou a ser o Órgão oficial do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga sendo a Diretoria do jornal exercida pelo Diretor de Publicidade do Centro Acadêmico, não mais acumulada pelo Presidente da agremiação – o defensor desta ideia foi Geraldo Montedônio Bezerra de Menezes, que transmitiu a Direção ao acadêmico Jorge Cortás Sader.
A literatura sobre periódicos educacionais no Brasil ainda não conseguiu produzir massa crítica suficiente a respeito dos jornais estudantis. Os estudos sobre juventude tampouco examinam a questão dos jornais publicados por e para estudantes. Mesmo as pesquisas e trabalhos sobre o movimento estudantil não foram capazes de desenvolver uma política consistente de preservação da memória estudantil – possibilitando que muitos exemplares d’O Gládio e de outros jornais se perdessem. Entretanto, posso dizer que nestes quase 93 anos O Gládio sobreviveu com muitos hiatos e alternância de nomes.
Já foi denominado “Terceiro Mundo”(1972), “Boletim do DAEV” (1975 e 1983) e “Jornal do DAEV”(1997). Em todos os outros momentos foi sempre “O Gládio”. Entre lançamentos e relançamentos, encontramos 39 números do jornal, estando a maior parte deles preservado na Biblioteca da Faculdade de Direito da USP (BFD-USP) e no Centro do Memória Fluminense (CEMEF/UFF).
Após cada lapso temporal, o retorno d’O Gládio sempre resgatou a memória do jornal sendo claro em se afirmar não apenas como um informativo da Gestão da CAEV, mas como um Órgão feito por e para estudantes e cuja força alimentava suas mentes para dar alicerce e respaldo ao movimento das e dos estudantes da Faculdade de Direito de Niterói. Nosso jornal teve sempre as suas colunas revestida de bom senso, no rigor das linhas que se cruzam e combinam com harmonia juvenil.
Oportunamente, faço um repto – nas palavras de Jorge Sader - aos estudantes de hoje e do porvir que estarão, farão e buscarão do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga para verem corporificadas as vontades da comunidade estudantil:
“O GLADIO precisa da cooperação de todos vós...
Cooperemos, pois, vivendo na alegrtia dos moços coerentes, sonhadores e idealistas; cooperemos, vivendo na harmonia da família estudantina; cooperemos, vivendo abraçados, nós, que precisamos do amparo mutuo nas lutas e do sorriso geral no descanso; cooperemos vivendo comunicativos uns para com os outros no choque elétrico da amizade, vivendo os dias de sonho que esperam os dias de realidade promissora; cooperemos vivndo como colegas na mocidade, nós, futuros amigos na velhice; cooperemos coesos, para que O GLADIO de 1930 continue sendo o de 1936, e para que este continue sendo no futuro uma dízima periódica de vitórias...”
Então, pelos anos vindouros, que continue O Gládio a ser instrumento de reverberação dos estudantes da Faculdade de Direitos de Niterói, um espaço plural e democrático, um espaço de encontro de memórias - que continua à espera de intérpretes interessados em dar-lhe sentido; que atravesse os muros da Faculdade alcançando nossos colegas pelos Cursos de Direito no Brasil e no Mundo; que continue sendo uma forma de expressão política daqueles que cada vez mais querem se fazer ouvir, por amor à nossa Faculdade e ao CAEV – ainda que revele seus problemas e fragilidades; por amor à pátria – inclusive denunciando os problemas sociais brasileiros; pelo respeito ao diálogo – abrindo espaços para as diversas manifestações políticas que envolvem a vida estudantil; pela valorização da cultura e da literatura - enquanto expressões da alma humana.
Viva o CAEV, pelo seu Centenário! Viva a imprensa estudantil! Viva O Gládio!
[1] Julio Cesar Santos da Silva é Graduando em Direito pela UFF e pesquisador da História do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga e foi dirigente do CAEV (2018-2019). https://lattes.cnpq.br/9653197465896589
2019, o ano em que a Faculdade denunciou o Ministro da Justiça
Por Rogerio Dultra dos Santos, professor de História Constitucional Brasileira da UFF
Em 2019, o novo Presidente do Brasil tomou posse, com seu Ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Moro tinha sido o juiz na famigerada"Operação Lava-jato", de perfil "medievalesco", nos dizeres do falecido Ministro do STF, Teori Zavascki.
Na condução da Operação, o então juiz, em óbvio conluio delitivo com o Procurador Federal Deltan Dallagnol (como restou provado depois nas revelações das reportagens do The Intercept), tirou o candidato com maiores intenções de voto da disputa presidencial, com base em ilações, mas sem provas, encarcerando-o por mais de 500 dias.
Como prêmio, Moro virou ministro do beneficiado direto da saída de Lula das eleições de 2018, Jair Bolsonaro.
A Associação Brasileira de Juristas Pela Democracia, compreendendo que a maioria da população não sabia das inúmeras ilegalidades cometidas pelo Ex-Juiz, resolveu iniciar uma campanha de esclarecimento, batizada de #MoroMente
Programado para acontecer no Salão Nobre da Faculdade em 23 de setembro de 2019, o evento #MoroMente, organizado por mim e pela ABJD, foi proibido pelo então Ministro da Educação Abraham Weintraub.
Na sexta (20), o reitor da UFF, Antônio Cláudio, determinou por ofício o cancelamento ato #MoroMente, após receber uma ligação telefônica do MEC. Segundo o documento da reitoria, a realização do ato teria perfil político-partidário e poderia configurar ilícito de improbidade administrativa.
O então Diretor da Faculdade, Wilson Madeira Filho e eu conseguimos, na própria segunda-feira, dia do evento, uma liminar favorável à realização da atividade.
Após sabermos de ameaças de políticos bolsonaristas de Niterói contra o evento, organizamos a segurança, com os policiais Antifascistas e o Delegado Orlando Zaccone.
Na decisão, o juiz José Carlos da Silva Garcia, da 3a Vara Federal de Niterói, destacou que o Supremo Tribunal Federal (STF) já havia decidido "categoricamente" pela "absoluta liberdade de manifestação e expressão no âmbito das universidades, mesmo e inclusive para manifestar preferência ou repúdio de natureza político-ideológica, ou mesmo partidária".
O evento aconteceu sem transtornos e a FDUFF se afirmou, mais uma vez, como um pilar na luta pela Democracia no país.
Palavras Chaves
.
