INCLUSÃO PARA ALÉM DE DEIXAR PARTICIPAR, INCLUSÃO É PERMITIR SER CAPAZ

Resumo

Quando acontece a união entre instituições públicas, profissionais competentes e a sociedade organizada com o intuito de beneficiar seus integrantes com necessidades específicas pode-se criar ações para melhorar significativamente a qualidade de vida desse ser humano, fomentando a mudança de atitudes e comportamentos em prol do outro e, estimulando o altruísmo, a percepção do risco e incentivando assim a nossa própria mudança, em busca de ser uma sociedade de resposta para adotar-se uma postura de sociedade prevencionista. Portanto, pensando desta forma e olhando para o futuro, se faz urgente à união de todos e deixar de lado o preconceito arraigado e ultrapassado do que é ser deficiente e adotar, de uma vez por todas, a inclusão em sua totalidade.

Artigo

INCLUSÃO PARA ALÉM DE DEIXAR PARTICIPAR, INCLUSÃO É PERMITIR SER CAPAZ

Kelly Cristina Bento Ferreira[1];

Orlando Sodré Gomes[2];

Alexander Araújo Lima[3].

RESUMO

Quando acontece a união entre instituições públicas, profissionais competentes e a sociedade organizada com o intuito de beneficiar seus integrantes com necessidades específicas pode-se criar ações para melhorar significativamente a qualidade de vida desse ser humano, fomentando a mudança de atitudes e comportamentos em prol do outro e, estimulando o altruísmo, a percepção do risco e incentivando assim a nossa própria mudança, em busca de ser uma sociedade de resposta para adotar-se uma postura de sociedade prevencionista. Portanto, pensando desta forma e olhando para o futuro, se faz urgente à união de todos e deixar de lado o preconceito arraigado e ultrapassado do que é ser deficiente e adotar, de uma vez por todas, a inclusão em sua totalidade.

Palavras-chave: Primeiros Socorros, Pessoa com Deficiência, Preparação, Mitigação, Abordagem Diferenciada.

 

  1. INTRODUÇÃO

A cidade do Rio de Janeiro, denominada “cidade maravilhosa”, rica em beleza natural, encantadora pelas suas paisagens e pela diversificada população. Atualmente é uma metrópole que possui mais de 6,3 milhões de habitantes e destes, mais de 480 mil são de pessoas com algum tipo de deficiência.

  • OBJETIVO GERAL

Desenvolver no cidadão o altruísmo, a confiança e a capacidade para ajudar o próximo.

1.2  OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Estimular a participação de todos enquanto sociedade contemporânea,
  • Mitigar a sensação de impotência diante do inevitável através da compreensão,
  • Expandir a compreensão da diferença entre deficiência e limitações,
  • Incentivar a capacidade do ser humano em sua singularidade,
  • Amplificar a capacidade de cada pessoa para poder fazer o bem,
  • Potencializar os pontos fortes de cada ser respeitando sempre os seus limites.

  • JUSTIFICATIVA

Faz parte do que é ser humano quando este é solicitado para realizar uma ação que envolva o outro, em geral projeta-se em sua criação o reflexo de si mesmo. Entretanto, isto é um erro, pois cada ser humano é singular e mesmo que se conviva em sociedade e, dividindo o mesmo tempo e espaço, deve-se ter sempre em mente as infinitas singularidades que permeiam a nossa jornada de vida e trabalho. Ao desenvolver um trabalho para outro indivíduo é necessário que haja a premissa da busca pela excelência para que o denominado “Customer Experience” seja satisfatório e não somente traga a sensação fugaz de sucesso, mas para que seja deixado um legado que perpetue com boas ações e resultados positivos para todos que se envolvam com essa ação desenvolvida. Pensando nisto, como ponto de partida pode-se vislumbrar o surgimento de uma nova linha de pensamento e abordagem quando a mesma ação em questão foi desenvolvida para uma pessoa sem deficiência, mas também é utilizada por e para uma pessoa com deficiência. É no mínimo curioso para todos no tocante de como pode ser possível isso funcionar sem que haja ao menos um improviso? Portanto, para que haja qualidade em todas as fases do processo, entre ter a ideia e o feedback assertivo do usuário da ação é necessário que se adapte, não somente a ação em si, mas a forma como pensa-se ela, ou seja, como a pessoa com deficiência absorve a ação e, como quem aplica se veja usuário dela, se assim fosse diferente de quem é enquanto a desenvolve. Nos momentos de urgências e emergências, normalmente tem-se a visão estereotipada de que a pessoa com deficiência não está apta a ajudar, ou que o procedimento de uma pessoa sem deficiência será mais eficiente, sem causar-lhe danos maiores. Enfim, se faz necessário preparar as pessoas com deficiência, assim como os seus respectivos responsáveis e os profissionais que trabalham com este público, ou seja, estes terem as mesmas chances de preservar a vida e aliviar o sofrimento humano no momento que o desastre se mostra inevitável. Por fim, atualmente há literatura científica riquíssima sobre diretrizes em primeiros socorros, haja vista os acervos técnicos da Cruz Vermelha Brasileira e da International Liaison Committee on Resuscitation, os quais são norteadores sobre ações, técnicas e comportamentos nos casos de urgência e emergência, entretanto, nota-se infelizmente, uma carência no desenvolvimento e elaboração dessa abordagem específica em primeiros socorros para pessoas com deficiência, assim como para seus tutores. Portanto, este artigo justifica-se em fomentar o desenvolvimento de novas metodologias de ensino sobre a área de primeiros socorros, fazendo com que se debruce sobre o que cada indivíduo possa fazer para contribuir para uma mudança de consciência, enquanto sociedade e enquanto ser humano.

  1. PARCERIA SUBPDEC – DEFESA CIVIL E SMPD – SECRETARIA MUNICIPAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

É um constante desafio para sociedade carioca fazer valer a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) e foi debruçando sobre esta preocupação e necessidade que no momento que a Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil – SUBPDEC ao ser procurada pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência – SMPD por meio da coordenação do Centro Municipal de Referência da Pessoas com Deficiência – CMRPD para realização de instrução para sua equipe de servidores, se reuniu com sua equipe técnica para a realização de uma proposta de trabalho. Foi reconhecida a necessidade de uma abordagem diferenciada que atendesse a equipe técnica, os usuários com deficiência e seus respectivos responsáveis em casos de situações de urgência e emergência, além de ensinar a desenvolverem uma melhor percepção de risco do desastre a fim de mitigar seus efeitos. (Figura 1).

Figura 1 – Reunião Técnica (07/11/2022): Da esquerda pra direita: Miná, Coordenadora – Ana Clara, Supervisora Técnica/CMRPD/SMPD – Kelly Ferreira, Instrutora de Primeiros Socorros/SUBPDEC. Fonte: Acervo da Autora (2022).

Considerando que a SUBPDEC trabalha no sentido de evitar, prevenir ou minimizar as consequências dos eventos adversos, e que tem como missão institucional “preparar  pessoas para uma vida mais segura” (aprovada e publicizada por meio da resolução da Secretaria de Ordem Pública – SEOP nº 327 de 23 de novembro de 2020) se fez a inédita parceria entre ambas às secretarias para a realização de um plano de trabalho de parceria voluntária entre a Secretaria Municipal da Casa Civil – CVL, por meio da SUBPDEC, e a Secretaria da Pessoa com Deficiência – SMPD, cujo objetivo é a capacitação em proteção e defesa civil e noções de primeiros socorros.

Ao ler Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012 e pontuar alguns de seus parágrafos da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC em seu Art. 5o sobre os objetivos, cita no parágrafo I – redução dos riscos de desastres; no parágrafo VII – promovendo a identificação e avaliação das ameaças, suscetibilidades e vulnerabilidades a desastres, de modo a evitar ou reduzir sua ocorrência e no parágrafo XIV – orientar as comunidades a adotar comportamentos adequados de prevenção e de resposta em situação de desastre e promover a autoproteção; e ao fazer a relação com a Lei 13.146 de inclusão da pessoa com deficiência em seu Art. 1º em que é instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania e em seu Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se no parágrafo VI – adaptações razoáveis: adaptações, modificações e ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e liberdades fundamentais; sendo assim, ao ser solicitada para este desafio e parceria fica evidente a necessidade do desenvolvimento de uma abordagem diferenciada sobre primeiros socorros para a pessoa com deficiência.

É necessária que seja desenvolvida a curiosidade de compreender o mundo particular de cada pessoa com deficiência para que se possa não somente ajudá-las, mas para que elas se sintam acolhidas e inseridas em nosso meio. Enfim, para que se sintam seguras. A palavra é inclusão.

Segundo a Lei 13.146 em seu art. 2º, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Não é portador de deficiência, não é portador de uma necessidade especial e sim uma pessoa com deficiência. Respeito se faz obrigatório.

  1. METODOLOGIA DO TRABALHO

A Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro por meio da SUBPDEC desenvolve há muitos anos projetos junto à população carioca com a temática de prevenção, preparação e mitigação do risco de desastres, bem como, em consonância com outras secretarias do município e não seria diferente com a SMPD. Assim como é desenvolvido uma abordagem diferenciada com alunos e servidores nas escolas foi também desenvolvido um material inédito desenvolvido com bases e comprovações científicas, pesquisas, depoimentos e vivência de profissionais envolvidos com o conteúdo de primeiros socorros e atendimento a pessoas com deficiência.

Conforme é mostrado na Figura 2 abaixo, os técnicos da SUBPDEC da cidade do Rio de Janeiro realizaram visitas técnicas ao CMRPD, localizado no bairro de Vila Isabel para que ao colher informações, depoimentos e presenciar a realidade dos profissionais que atendem os usuários daquele aparelho realmente necessitam. Por meio da instrutora de primeiros socorros – Kelly Ferreira foi verificada a carência de publicações científicas sobre primeiros socorros voltados para pessoas com deficiência e a mesma com autorização da coordenação de estudos, pesquisas e treinamento da SUBPDEC desenvolveu um material específico para este público.

Figura 2 – Visita técnica (11/01/2023): Esquerda pra direita: Kelly Ferreira, Instrutora de Primeiros Socorros/SUBPDEC, Conceição, Supervisora/CMRPD e Miná, coordenadora/CMRPD Airton Moraes, Gerente de Projetos/SUBPDEC, e Rafael, supervisor da empregabilidade/CMRPD. Fonte: Acervo da Autora (2023).

Somente após a verificação das reais necessidades que os servidores e usuários dos equipamentos da SMPD precisavam é que foram desenvolvidas as atividades a serem realizadas.

Conforme é mostrado na Figura 3 abaixo, foi feito mais uma reunião que ocorreu na sede da SUBPDEC, onde foram informadas e repassadas as ementas contendo a palestra de abertura e a capacitação em primeiros socorros para pessoas com deficiência.

 

Figura 3 – Reunião de alinhamento (26/01/2023): De baixo para cima, da esquerda para a direita: Juliana, assessora de coordenação, Alexandre Araújo, Coordenador, Orlando Sodré, Engenheiro, Kelly Ferreira, Instrutora de Primeiros Socorros/ ambos da SUBPDEC, Miná, coordenadora, Rafael, supervisor e Gustavo, fisioterapeuta/Ambos do CMRPD. Fonte: Acervo da Autora, (2023).

3.1 PALESTRA DE SENSIBILIZAÇÃO

Foi realizado no dia 09 de março de 2023 a “Palestra de Sensibilização de Primeiros Socorros para Pessoas com Deficiência”, para toda a equipe técnica e colaboradores convidados pelo CMRPD e SMPD, e contando com a ilustre presença da Secretária Municipal da Pessoa com Deficiência, Drª Helena Werneck e a sua Subsecretária – Drª Flavia Cortinóvis e o Subsecretário de Proteção e Defesa Civil da cidade do Rio de Janeiro, Cel BM Rodrigo Gonçalves e a imprensa, conforme é mostrado nas Figuras 4 e 5, a seguir.

   

Figura 4 e 5 – Palestra de abertura (09/03/2023): Kelly Ferreira, Instrutora de Primeiros Socorros/SUBPDEC. Fonte: Acervo da Autora, (2023).

Essa palestra de abertura e sensibilização fez as seguintes abordagens:

  • Relação Defesa Civil e prevenção em primeiros socorros;
  • Conceito de primeiros socorros;
  • Pessoas com necessidades especiais e pessoas com deficiência;
  • Limitações das pessoas com deficiência;
  • Cuidados especiais para quem cuida;
  • Socorro Psicossocial
  • Abordagem Diferenciada;
  • Acionamento do SME (Serviço Médico Emergencial);
  • A Importância de estar preparado;
  • Primeiros socorros são para todos.

Ao término da palestra (Figura 6) a Subsecretária Drª Flávia Cortinóvis, que é mãe de uma criança com Síndrome de Down, deu um depoimento emocionado sobre a importância, deste trabalho apresentado devido a esta parceria SUBPDEC/SMPD, para o atendimento não só das pessoas com deficiências, mas para com seus respectivos responsáveis e os técnicos servidores que os atendem os usuários dos equipamentos da SMPD.

Figura 6 – Palestra de abertura (09/03/2023): Depoimento da Subsecretária Municipal da Pessoa com Deficiência, Flavia Cortinóvis a Kelly Ferreira, Instrutora de primeiros socorros/SUBPDEC. Fonte: Acervo da Autora, (2023).

3.2 CAPACITAÇÃO EM PRIMEIROS SOCORROS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Na semana seguinte da palestra de abertura, mais precisamente no dia 15 de março de 2023 foi realizada a capacitação em primeiros socorros para pessoas com deficiência. Esse encontro teve a duração de 4 horas e o público-alvo foi toda a equipe técnica e os colaboradores do CMRPD/SMPD de Vila Isabel que também participaram da palestra de sensibilização do dia 09 de março de 2023.

No conteúdo desta instrução foi abordado assuntos com as seguintes temáticas:

  • Relação Defesa Civil e prevenção em primeiros socorros;
  • Conceito de primeiros socorros;
  • Regra dos 3 Ps;
  • Acesso seguro;
  • Aspectos legais;
  • Bio segurança;
  • Socorro psicossocial;
  • Primeiros socorros PCD/Abordagem diferenciada;
  • TEA e os sentidos.
  • Acionamento do SME (Serviço Médico Emergencial);
  • Abordagem a vítimas de urgência e emergência para leigos;
  • Identificando o nível de consciência;
  • Anamnese breve;
  • Sinais e sintomas;
  • Classificação de hemorragias e hemostasia;
  • Convulsão e PLS;
  • Reanimação cardiopulmonar;
  • Dea;
  • Desobstrução de vias aéreas.

A seguir são mostradas as Figuras 7, 8, 9, 10 e 11 da Capacitação de em Primeiros socorros para Pessoas com Deficiência.

Figuras 7, 8, 9, 10 e 11 – Capacitação em primeiros socorros para pessoas com deficiência. (15/03/2023). Fonte: Acervo da Autora, (2023).

Para esta capacitação foram utilizados os recursos: áudio visual, slides, vídeos, depoimentos, teorias, técnicas, práticas, equipamentos de simulação além de contar com a ajuda do voluntario da Defesa Civil Alvarez para realização de algumas técnicas de primeiros socorros. Durante a instrução de primeiros socorros foi demonstrado que apesar do assistente Alvarez possuir uma deficiência física com limitações de movimentos também consegue socorrer uma vítima de urgência e emergência em algumas situações. Como por exemplo: posicionar lateralmente uma vítima inconsciente que respira e executar uma compressão abdominal para a desobstrução de vias aéreas.

Após a conclusão das atividades com os profissionais e colaboradores do CMRPD de Vila Isabel acontecerá novos treinamentos que serão realizados futuramente. Aguardando cronograma.

O propósito desta capacitação foi muito além de ensinar sobre ações, técnicas e comportamentos de primeiros socorros, foi de demonstrar que todos podem ser capazes de ajudar. A palavra foi adaptação.

  1. ESTUDO DE CASOS

 As Doutoras Carine Bompet de Campos Castro e Débora Cristian Santos de Souza trabalham no CMRPD/SMPD no bairro de Vila Isabel e elas concordaram e autorizaram a instrutora de primeiros socorros da SUBPDEC, Kelly Ferreira a utilizar e publicar os seguintes depoimentos para confecção desse trabalho científico.

 

4.1 ESTUDO DE CASO 1: DEPOIMENTO DA Drª CARINE

A Drª Carine Bompet de Campos Castro é fonoaudióloga e profissional do CMRPD participou das duas atividades (palestra e capacitação) no auditório da SUBPDEC, assim sendo relatou que dias após a capacitação do dia 15 de março ela foi acionada tarde da noite pela sua irmã, para socorrer a mãe delas, a senhora Maria das Graças Bompet de Campos. 71 anos.

A senhora Maria possuía problemas de saúde por conta de hipertensão arterial e estava sob cuidados e fazendo acompanhamento médico, ao chegar a casa aonde a mãe se encontrava, ela constatou que ela estava convulsionando e em estado de muita rigidez muscular. Devido a esse fato, como a mãe havia passado mal recentemente, as irmãs decidiram levá-la para a emergência no carro da família. Mesmo com o estado emocional muito abalado e o medo eminente da perda de sua mãe, a Drª Carine ao vê-la que não respondia a estímulos, se recordou da aula recente que teve sobre primeiros socorros, no evento de capacitação de primeiros socorros para pessoas com deficiência nas dependências da SUBPDEC e, imediatamente colocou sua mãe em posição lateral de segurança, mantendo seu rosto virado evitando assim que ela viesse a sufocar com algum tipo de secreção. Em determinado momento, Drª Carine percebeu que sua mãe não possuía mais pulsação e respiração e então pensou: “vou fazer as manobras que a instrutora de primeiros socorros da SUBPDEC – Kelly Ferreira ensinou” e, ali mesmo no carro a caminho do hospital ela começou a realizar as manobras de reanimação cardiopulmonar até que sua mãe em um movimento repentino e involuntário expelisse muita secreção pela boca e suspirasse. Ao chegar ao hospital sua mãe foi recebida pela equipe médica e foi internada em condições estáveis de saúde. Portanto, o mais importante é que sua mãe chegou com vida.

No dia seguinte, a mãe, Dona Maria estava lúcida e conversou com as filhas em seu leito no hospital, porém infelizmente a sua mãe veio a óbito semanas depois por complicações no seu estado de saúde. Porém, Carine disse que o luto seria mais difícil se tivesse perdido a sua querida mãe no trajeto ao hospital e dentro do carro, pois teria sido uma perda muito abrupta e possivelmente mais traumática. Entretanto, ela ter conseguido reanimar a mãe, fez muita diferença na vida familiar, ou seja, poder ganhar mais alguns dias com a mãe foi e está sendo muito importante para todos os familiares no momento de sua passagem.

Drª Carine relatou a suma importância de realizar atualizações sobre primeiros socorros, pois conta que na noite em que a mãe passou mal, tanto a irmã quanto ela, não sabiam o que fazer, devido à forte carga emocional em que estavam emersas e, foi pelo fato de ter recebido instruções sobre o assunto recentemente que ela obteve um momento de racionalidade, e passou a realizar corretamente as manobras que havia absorvido da instrutora Kelly, e confirmar que funcionam.

“As técnicas de primeiros socorros deveriam ser lecionadas para todas as pessoas sem distinção de área de trabalho, pois é totalmente diferente atender uma pessoa em situação de emergência na rua do que em ambiente intra-hospitalar onde existem grandes chances de ter todos os recursos à disposição e uma equipe técnica para dar suporte, sem mencionar que tudo se intensifica quando a vítima é quem se ama” – relato incisivo e emocionado da Drª Carine.

Portanto, o presente trabalho só tem a agradecer a Drª Carine Bompet de Campos Castro pela sua enorme contribuição com este depoimento, a parabeniza pela sua bravura por conseguir realizar as manobras com eficiência que permitiu reanimar sua mãe e se solidariza com vossa perda. Que seu depoimento nos ajude a levar os primeiros socorros para mais pessoas.

4.2 ESTUDO DE CASO 2: DEPOIMENTO DA Drª DÉBORA

A Assistente Social – Drª Débora Cristian Santos de Souza, tem 50 anos, participou das duas atividades (palestra e capacitação) no auditório da SUBPDEC, é mãe do jovem Roger Philipp Souza de Silva que hoje está com 32 anos de idade.

A Drª Débora relata a Instrutora de primeiros socorros da SUBPDEC, Kelly Ferreira, que seu filho nasceu com um tipo de deficiência rara chamada raquitismo renal hipofosfatêmico (distúrbio em que os ossos se tornam moles e doloridos e se curvam facilmente, porque o sangue contém uma concentração baixa de eletrólito fosfato) e, que alguns dos sintomas é a má formação óssea causando espasmos, convulsões e dores. Ela contou que levaram anos após o nascimento de seu filho para chegarem ao diagnóstico correto, mas que ela não desistiu de buscar pelo melhor para o seu filho, indo com ele em todos os médicos que lhes eram recomendados.

Débora participou da capacitação em primeiros socorros realizada no dia 15 de março de 2023 no auditório da SUBPDEC para a equipe do CMRPD de Vila Isabel e, conta que durante a explanação sobre primeiros socorros psicológicos, onde é mencionado os sintomas causados pelo transtorno da ansiedade, ela relembrou de muitos momentos vivenciados com seu filho, pois passou por praticamente todas as situações comentadas durante a instrução. No momento da instrução que aborda o conteúdo de primeiros socorros sobre convulsão, ela se remeteu há 4 anos atrás quando seu filho Roger passou por uma crise de quase um ano de muitos episódios de convulsões.

“Se eu tivesse recebido esta aula de primeiros socorros pelo menos antes destas últimas crises de convulsão acontecerem eu teria tido mais preparo, mais estrutura emocional e psicológica para enfrentar aquele momento que foi tão difícil para mim, além de eu conseguir compreender melhor sobre tudo que estava acontecendo com meu filho.” – relato emocionado da Drª Débora. Outra coisa que ela mencionou, e que teve que aprender na marra sobre o que fazer e, que teria sido diferente se ela tivesse aprendido anos atrás sobre primeiros socorros. Por fim, Débora conta que não aconteceu nenhuma situação de urgência e emergência após a capacitação, mas que hoje em dia, ela se sente preparada para atuar sem hesitar e ajudar caso aconteça algo relacionado ao que aprendeu na aula.

Portanto, a SUBPDEC na pessoa de sua Instrutora de primeiros socorros e autora desse trabalho agradece a Drª Débora Cristian Santos de Souza pela sua enorme contribuição com este depoimento e a parabeniza pela sua bravura por conseguir, mesmo sem conhecimento técnico, socorrer seu amado filho Roger todas as vezes que ele precisou, ou seja, que seu depoimento nos ajude a levar os primeiros socorros para mais pessoas.

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Defesa Civil como filosofia de vida para as pessoas e como instituição mor de suma importância em qualquer sociedade e, que busca a resiliência aos desastres, na cidade do Rio de Janeiro, esta denominada SUBPDEC, desenvolve estudos, pesquisas, ações, treinamentos, capacitações que promovam a prevenção e preparação da população carioca com o intuito de mitigar os riscos do desastre. Para tal, deve ser expandido o conceito de desastre para além da interferência humana, seja na falta da preservação do meio ambiente ou na execução de construções em locais vulneráveis e, deve-se debruçar no que impulsiona o ser humano a ser melhor, sendo ele com ou sem deficiência. Portanto, um ser cidadão capaz de feitos incríveis de superação de barreiras e, que merece estar livre de preconceitos ultrapassados. A realização das ações descritas neste artigo para a equipe do Centro Municipal de Referência da Pessoa com Deficiência foi apenas o inicio de uma jornada pela busca de metodologias mais inclusivas que requer mais eventos, mais depoimentos e comprovações de sua eficácia visto o retorno positivo já devidamente documentado.

Portanto, SUBPDEC – Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil da cidade do Rio de Janeiro, na pessoa de sua instrutora de primeiros socorros Kelly Cristina Bento Ferreira e autora desse trabalho, mais uma vez se mostrou presente e se dedicou a oferecer, a sociedade carioca, esse artigo como um trabalho científico digno e merecedor para as pessoas com deficiência, trabalhando sempre para tornar a vida do cidadão mais segura.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm#:~:text=Art.%202%C2%BA%20Considera%2Dse%20pessoa,condi%C3%A7%C3%B5es%20com%20as%20demais%20pessoas, <Acessado em 20 de maio de 2023>.

BRASIL, Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012. Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12608.htm, <Acessado em 20 de maio de 2023>.

Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Diretrizes internacionais de primeiros socorros, reanimação e educação, Genebra, 2020.

International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR). Emergency First Response Primary Care e Secondary Care. 2020.

International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR). Emergency First Response CPR & AED. 2020.

International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR). Emergency First Response Care for Children. 2020.

IPP – Instituto Pereira Passos, DATARIO. https://www.data.rio/documents/n%C3%BAmero-e-propor%C3%A7%C3%A3o-da-popula%C3%A7%C3%A3o-de-deficientes-f%C3%ADsicos-por-grau-de-dificuldade-segundo-a-regi%C3%A3o-administrativa-ra-no-munic%C3%ADpio-do-rio-de-janeiro-em-2000-2010/about, <Acessado em 21 de maio de 2023>.

PHTLS – Atendimento Pré-Hospitalar ao Traumatizado. 9. ed. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2020.

Biografia:

[1] Instrutora de Primeiros Socorros da Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil, Defesa Civil Municipal do Rio de Janeiro; [email protected];

[2] Engenheiro Civil, Defesa Civil Municipal do Rio de Janeiro, [email protected];

[3] Coordenador da Coordenação de Estudos Pesquisas e Treinamento da Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil do Defesa Civil Municipal do Rio de Janeiro, [email protected].

Palavras Chaves

Primeiros Socorros, Pessoa com Deficiência, Preparação, Mitigação, Abordagem Diferenciada