POSFÁCIO
“Invisibilidades: reflexos do racismo e da escravidão no Brasil” é um livro que evoca uma profunda reflexão sobre as persistentes consequências sociais e culturais deixadas pela escravidão e pelo racismo estrutural na sociedade brasileira. Na história da escravidão no Brasil, que durou quase quatro séculos, resta clara a percepção de que não terminou com a assinatura da Lei Áurea em 1888 e suas sequelas continuam a afetar as vidas de milhões de afro-brasileiros, manifestando-se de diversas formas, desde a desigualdade socioeconômica até a violência racial, a marginalização cultural e segregação ambiental.
A “invisibilidade” mencionada reflete a ausência de representatividade negra em posições de poder e destaque na sociedade, onde negros frequentemente são sub-representados em setores como política, mídia, educação e negócios. Essa invisibilidade também se estende à negação da contribuição africana para a formação cultural, histórica e social do Brasil, uma herança rica que vai muito além da mera força de trabalho escravizada.
A obra destaca como o racismo estrutural opera para manter essa invisibilidade, perpetuando estereótipos negativos e limitando o acesso a oportunidades de desenvolvimento e reconhecimento. Os racismos multifacetados no Brasil sempre velados, negados pela mitificação da democracia racial, um conceito que sugere uma harmonia racial que não existe na prática. Essa negação impede a elucidação plena do problema e, consequentemente, a busca por soluções efetivas, por mais que existam políticas públicas para tal.
No decorrer da coletânea percebe-se a importância que a educação detém, sendo um dos campos mais afetados por essa herança de invisibilidade da verdadeira história da escravidão no Brasil. A história e a cultura negra, por exemplo, ainda lutam por espaço nos currículos escolares, o que contribui para a perpetuação da marginalização cultural. Na economia, a desigualdade racial se manifesta em disparidades salariais e de tributação, desemprego mais elevado entre negros e menor acesso a posições de liderança.
Por fim, temos uma obra que realmente visibiliza as mazelas brasileiras estruturais e institucionais às quais o combate não cessará tão cedo, porém, com ações afirmativas como essa da Comissão da Verdade da Escravidão Negra do Brasil da subseção OAB Barra da Tijuca – RJ, incentiva-se que a decolonialidade se aplique à mais esferas da sociedade brasileira para que se constitua efetivamente o que almeja a Constituição Federal vigente, uma sociedade equânime e justa.
Marcos Vinícius Jardim Rodrigues
Conselheiro do CNJ